Quando era miúdo apanhei este filme a dar na televisão e na altura não foi um dos meus preferidos. Tinha um tipo que era uma versão barata do Conan, a dizer uma parvoíces, que era o boss daquilo tudo, ainda por cima com cenas de luta más. Portanto é sem surpresa que nunca mais me lembrei dele e ficou arquivado na pastinha do "nunca mais voltar a ver".
Entretanto, passados não sei quantos anos, comecei a fazer Kung Fu e de tempos a tempos fazem-se actividade, seja um concerto, ou falar sobre meditação, ou visitar a um supermercado biológico enquanto se fala de alimentação, etc. Ontem foi o visionamento de um clássico das artes marciais, de 1978, escrito pelo Bruce Lee, ali num dos espaços da Lx Factory. Eu estava todo contente por estar a aliar duas coisas que gosto muito, Kung Fu e Cinema, até porque não me lembrava que já tinha visto este filme. E ainda bem que não me lembrava, porque permitiu-me ver tudo com a mente aberta sem conceitos prévios.
Coisinhas importantes para se saber sobre este filme:
Como disse anteriormente, foi escrito por Bruce Lee, e seria o primeiro de uma série de filmes que exploravam a componente mais filosófica das artes marciais. Era para ter sido filmado em 1969 na Índia com Bruce Lee a interpretar 4 papéis, mas várias divergências levaram a que o filme fosse adiado. Bruce Lee morre em 1973 durante os trabalhos de Enter the Dragon com 32 anos. E as divergências em relação a este filme foram-se resolvendo até que em 1978 o filme sai com David Carradine a fazer os papeis que era para ser de Bruce Lee.
Em relação ao filme propriamente dito... vou tentar dividir o que escrevo em camadas para ver se me entendo a mim mesmo.
1) As lutas
Na minha opinião não são grande coisa. Há 500 filmes menos conhecidos que este cujas lutas são melhores, portanto não é por este factor que se deve ver.
2) Os Actores
Apesar de ter reunido alguns nomes de peso na industria cinematográfica de hoje como David Carradine (fez 4 papeis), Christopher Lee (Zetan), Roddy McDowall, Eli Wallach, não me deixou completamente satisfeito, talvez porque Jeff Cooper (Cord) apesar de toda a boa vontade não é propriamente um actor de excelência e como acaba por ser ele que tem o maior número de horas à frente do ecrã... (não deixo de pensar e "se tivesse sido o Steve McQueen?" como era o desejo do Bruce Lee)
3) Realização
Não comprometeu sem ser brilhante. Está essencialmente demasiado agarrada aos anos 70 para o Circulo de Ferro poder ser considerado como uma obra intemporal, e isto nota-se nos penteados, nas musicas, na maneira de filmar.
4) Fotografia
Sem dúvida um dos pontos altos! No meio de toda a confusão o filme acabou por ser filmado em Israel, e as paisagens são deslumbrantes, e foi tudo filmado com um extremo cuidado. Aquelas imagens com o David Carradine a tocar flauta são espantosas mesmo!
5) Argumento
Esta é a parte mais apetitosa do filme. Sim minha gente, estou a falar de um filme de porradinha que tem um argumento que é muito bom mesmo. A história é passada num mundo que não é o nosso e não deixa de o ser, e acompanha o percurso de Cord na sua busca para encontrar Zetan o guardião do livro do conhecimento, e claro que para lá chegar tem uma série de testes. Ou seja temos herói que tem de ir do ponto A até ao ponto B, vários testes no caminho, um inimigo e uma grande recompensa. Até aqui nada de transcendente, certo?
Pois, a parte interessante é que tudo isto é utilizado como uma base para uma lição surpreendente dada por Bruce Lee sobre a filosofia Zen. Não quero discursar muito sobre isto porque acho que cada um deve tirar as suas próprias conclusões depois de ver o filme, apenas digo que nada do que os personagens dizem é dito por acaso, todos os testes tem um significado, para tudo há uma razão de ser. (E aqui é a parte que noto a maior diferença entre o meu visionamento do filme em criança e de do de agora, é que de facto houve uma data de coisas importantes que simplesmente me passaram ao lado.)
Acho que de facto o melhor elogio que se pode fazer ao filme é que é um filme completamente diferente dos da sua classe, e que só aproximadamente 30 anos depois parte da sua mensagem (e apenas e só parte da mensagem) chega ao público geral com o Kung Fu Panda. Assim de repente parece ser um filme muito à frente para a sua época!
Contudo não é um filme simplório, é preciso ter atenção (tantos ao pormenores como ao que se passa no geral), pensar, ser critico, questionar, para se poder ter acesso a tudo o que o Circulo de Ferro tem para oferecer.
Já agora... alguém sabe porque raio mudaram o nome ao filme de "The Silent Flute" para "Circle of Iron"?
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