Este é daqueles filmes que se aproxima de mansinho e, de repente, ataca-nos com toda a fúria com um tremendo golpe que nos deixa completamente zonzos e desorientados. Se calhar estou a dramatizar demais, mas honestamente fiquei siderado com o filme. Aviso já que, desta vez, vou falar do filme sem pensar em quem não o viu.
Em "O mágico" (e esta deve ser uma das piores traduções de um nome de sempre na história do cinema), acompanhamos um ilusionista em final de carreira que, quando deixa de conseguir trabalho nas grandes cidades, o seu caminho o leva para uma pequena vila escocesa onde conhece Alice, uma jovem rapariga inocente que trabalha no pub local. O que acontece é que ele deslumbra-a com as ilusões que vai criando e ela acredita que são magia. Quando ele segue o seu caminho, ela resolve segui-lo. O seu destino acaba por ser Edimburgo e o que se observa é a sua vida quotidiana, com ele a fazer todos os possíveis para que ela continue a acreditar na magia, até que chega a um ponto em que ele simplesmente percebe que precisa de se separar dela para ela poder ser feliz e de quebrar o mito que tanto trabalho lhe deu a construir. (É por causa da cena da destruição do mito que eu acho que "O mágico" é uma péssima tradução do nome do filme.)
Quando se vê as coisas assim dá para perceber que isto é o que acontece nas relações que os pais têm com os filhos. Criam-se mitos, histórias, ilusões que passam por magia para eles, de alguma forma vai-se alimentado a ilusão da magia durante o tempo que é possível, depois é necessário desconstruir tudo isso. Dai ser possível entender-se a sinopse que descreve "O Mágico" como uma carta de amor de um pai à sua filha, porque no fundo é mesmo.
Esta história lindíssima (baseada num argumento de Jacques Tati) é acompanhada por desenhos espectaculares, bem ao estilo de "Belleville Rendez-vous" não fosse o mesmo realizador (Silvain Chomet), e uma banda sonora extraordinariamente doce. Tudo isto faz com que este seja um filme de animação completamente diferente de tudo o que anda por ai actualmente, e é sem dúvida um dos melhores que tive o prazer de ver.
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